quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Blues da Separação

Se você pensa que eu tô carente, baby...
Não, só careta!
Se você pensa que sinto falta,
nem noto que você não tá.


Passo meus dias envolta em mim mesma
E pra mim são meus planos,
apenas pra mim.


Se você pensa que eu tô sozinha, baby
Não, tô acompanhada de mim mesma
Tô cheia de sal,
tempero, normal!


Passo meus dias envolta em mim
E pra mim são meus planos
apenas pra mim.


Se você pensa que esse é um recado, baby...
Não, é só uma canção.
Depois que você se foi
minha vida é música e pura emoção.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Balanço

3 anos
3 clínicas
várias recaídas
e, finalmente, quase intacta


o silêncio noturno
quase soturno
palavras circundando
quase circunscrita
a alma que se diz imortal


depois de tantas luas
ainda serei igual??
tão diferente das tantas
que desfilam neste festival??


fumei um cigarro na garagem
não preciso mais escrever no escuro
e, enfim
as palavras chegaram... para quem?


ainda insisto em escrever em versos... para quê?
é essa necessidade intrínseca
                                honesta
                                que simplesmente vem.


                                depois dela o sono vem.


                                amém.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Meus poemas estão amarelados.
Antes  estivessem em um sebo,
esfarelando-se, em forma de tomos,
silenciosos como a vergonha
de se urinar em público,
de assumir uma culpa,
de tropeçar no meio de uma parada...
um silêncio que vence a banda,
os falatórios,
um samba.

Meus poemas transformaram-se
em uma ferrugem n'alma,
desesperada por se expor...
mas sem encontrar um zíper - exit -
um botão para livrar-se da dor,
amarela, que corrói...
alma atropelada por um rolo compressor.
Está árido meu espírito
Minha língua um deserto

Cactos desarrumados
Espalhados pra todo lado

Nem pântanos, nem esgotos
Nem saída pra nada

Chegou a hora em que andar a esmo
seguir em frente,
olhar pra trás
já não satisfaz

Inerte o som no deserto
Tão certo como vento não há
Inerte o corpo na areia
Espírito? Já não está...

Nenhuma flor derradeira
Mesmo que perfume nenhum
Mesmo uma cova rasteira
Sete palmos, 2 por 1

Tão triste a morte em vida
tudo que é belo se esvai
Vontade, cisma - qual nada!
é só o tempo que sai...
 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Polly

Ótimo que cause câncer
Desta é só para melhor
Ótimo que cause perda de memória
Principalmente dos momentos inesquecíveis, hoje, pra mim
Ótimo que cause uma over
E não é assim?
- Sacode a poeira e dá a volta por cima?
É muito difícil não saber mentir
Estar parindo, reformulando-se, transformando-se
e sentir a necessidade de não insinuar o ventre, 
não provocar náuseas em ninguém
nem emoção, nem nada.
Estão tentando sugar-me com uma seringa
Estão chupando minhas vontades mais inofensivas
Estão dragando o novo sangue que inundaria
minha nova vida.
Sei que ando cometendo viagens
Mas sobre elas só tenho que a mim responder
São feitas para responder minhas perguntas,
Perguntas tão antigas quanto minha necessidade de ar
Minha placenta por muito tempo foram os sonhos
Criei coragem e a refiz com minha vida
Cada automóvel, cada buzina, cada pessoa,
Cada coisa, cada caso, cada causo,
um ingrediente para minha comida
Estou quase pronta pra nascer
E agora me arrancam os olhos
E a boca
E a pele
E o cérebro, protegido pela frágil caverna óssea,
será o próximo a ser abatido
Pelos comedores de pessoas felizes
Pelos comedores de pessoas íntegras
Pelos chupadores de vida
Pelos chupadores de dor alheia (que neles vira prazer)
Eu me recuso a ser abortada 
Após tão curta estada
Nos braços de mim mesma! Juro!

Amargo regresso

Novamente as festas bilaterais
os gozos derradeiros navalhados
                                  navarreados
                                  um   r   pra cada lado
um riso um raio
um roto atrás de 'otro'
um rosto atrás de um pouco
de amor...

um rato um ralo

             a alegria sumindo no esgoto
             lá pelo fim de agosto

o rubi longe do dedo
lá em cima da prateleira
o fósforo na caixa
pra mod'squent'a chaleira

uma ratoeira
ficou escondida
naquele lado naquela esquina
quem sabe volta a menina

mas pra ela continuar
tem que cuidar
de continuar
a ela confortar
dizer que ela nasceu
para curtir,
para divertir,
que é deliciosa em todos os sentidos...

se disser que é louca tudo bem
mas se disser que tome cuidado que vá devagar
é o mesmo que dizer mude mude mude mude mude mude
e ela não quer mudar agora que se descobriu descobriu

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Se me perguntassem de sua beleza eu nada poderia dizer
a não ser o que qualquer ser apaixonado diria:
- A pessoa por quem me apaixonei é linda!

Se me perguntassem sobre o que pensa, fala, faz,
enfim, sobre sua vida eu apenas poderia dizer:
- A pessoa por quem me apaixonei é linda!
Pois quando há paixão, os primeiros a pedirem clemência são os olhos
- em seguida todos os outros sentidos sucedem-se,
desaparecendo,
prateando de apenas luz e uma tênue presença -
a figura do ser a quem se admira.
É impossível ao ser apaixonado
relatar ou definir as minúcias
do caráter de quem gosta,
se, no fundo, sabe
o mal que almeja
- ou o mau que cobiça
e quer para si -, mesmo,
no fundo, sabendo,
esconde de si
como se fosse com outrem o problema.

Esse é o mal dos enamorados:
vêem o que querem, apenas isso,
mesmo quando, como dons-quixotes,
guerreiam contra entidades
fantasmagóricas e irreais
- mesmo quando lutam,
é contra o que querem lutar
pois, repito, os enamorados
apenas vêem o que desejam ver.

Não há absinto, não há ópio,
não há extasy maior
que o de encontrar quem se espera,
ou se procura...
ou se procurou encontrar,
prudentemente ou pior acaso,
em uma alameda qualquer...
a sensação é de que a tal ampulheta
está naquele momento
com sua fenda necrosada, 
cariou-lhe a cintura fina
e por ela nem mais o tempo passa.
Para tantos o amor é algo tão único,
para todos ele pé tão igual...
Enquanto uns vivem de migalhas
talvez da própria imaginação,
outros optam por pagar a refeição.

E assim também há os que matam,
aqueles que salvam,
há os amores daqueles que odeiam,
daqueles que nos rodeiam.

Há amores de todos os dissabores.

terça-feira, 24 de maio de 2011

...



É tão grande o nojo
na primeira trepada após ser traída.


          É como sentir o cheiro da outra
          nele, que já teve o cheiro meu.


                    É nunca mais fazer amor.

As casas vão ficando velhas
as crianças crescem
belas e parelhas.

Nos canteiros
as paineiras apodrecem
as folhas parecem
largas orelhas
penduradas
em
o
s
s
o
s
ressentidos.

Os sonhos de aurora
já são de outrora
folhas de agora
na sombra gelada
enforcadas
p
e
n
d
u
r
a
d
a
s
no destino.

Deus salve Kurdt.

Poema de um poeta perfeito

Aqui está uma poesia estudada
Rimada
Corrigida
Assumida.
Aqui está uma poesia feita sem emoção
Sem se deixar levar pelo coração.
Aqui está a poesia de um poeta formado
Entalhado, metrado,
metralhado de técnicas de superposição.
Aqui está uma poesia feita
em um momento sóbrio
sem tristeza nem ódio
e sem vocação.

Ao fim desta se fez correção.

Tratado de Versalhes

A lua é o olho do mundo.
Na noite passada, o mundo estava com hepatite.
Será que o amarelo do olho do mundo
é poeira (porque não chove)?
Ou é o reflexo das bombas 
que explodem 
duas a cada segundo?

O mundo está doente.
É preciso salvar o mundo.
É preciso alguém de branco
pra tornar branco o amarelo do mundo.
 

Já passou...

É à noite, durante os sonhos,
que te encontro, cruel e pálida, perfumada e bela,
em pó ou em pedra.



Não me abandonas nem à noite,

entorpeço-me do teu cheiro
(e nem penso que é de morte).




A quem sonha não é permitido
acordar-se a si mesmo
banir de vez esse bocado de vento.
Isso, que de cura vira tormento
Isso que, de longe, nem é alimento!

Freedom

(para Ana Rita e Ivonete)



Hoje houve fuga
daqui do internato.
Aluna com aluna
resolveram num contralto
da grande vigilância
se ausentar.

Se jogaram das mãos
de Deus, que as mantinha aquecidas
para, na noite fria, fugir da prisão.
Só não sabiam as duas 
que a prisão é lá fora:
o vício sempre a fuga implora!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Indiferença

O trivial está feito
Cortinas cerradas
Malas atoladas
Mudança marcada.
Mas
e o coração?

Pchiu...


Guarde bem seu segredo, guarde bem
Tanto que nem mesmo você o veja
Esconda
Pinte seu segredo
Camufle

Não te livrará dele
Tudo o que fizer...
Mas só você saberá a cor.

Dias modernos


Estes são dias absurdos.
Proseiam os mudos.
Passeiam os cegos.
Escrevem os lerdos.

Poderiam:
Passear os lerdos.
Prosear os cegos.
Escrever os mudos.

Assim:
Seria um demorado passeio.
Uma prosa sem hipocrisia.
Um livro sem histeria.

Primeiro haicai apaixonado


E com o amor puro

O relógio mais o tempo

Também se beijaram

Carnaval

A brisa de quarta-feira me traz teu cheiro
ele sai do meio de minhas pernas, ainda...
(não me abandonas nem quando me escapas!)
 porque a porção de ti que de ti te abandonas
para a nova cria, demora a sair de mim.

Ilustre e demorado cheiro de amor,
humor, tumor... que, ao invés de matar-me, dá-me a vida.

A brisa de quinta ainda traz, nem disforme, nem envolvente,
o mesmo odor, envolto em calor,
úmido e tênue o mesmo cheiro,
talvez alado, talvez trigueiro,
cheiro de tesão nas calças,
sutiã sem alças, caídas, nos ombros,
arrancadas de sopetão.

In útero, in Janis, hendrix ou morrison, jaz, cansado,
latejando bateras p r o g r e s s i v a s, como as estocadas,
tacadas de golfe, atingindo o horizonte, a grama, (o grama),
o buraco feito para se acertar.

Aqui não há democracia,
o que consegue primeiro chegar à lua se extasia,
o segundo dá o segundo passo, ainda ilustre,
e, lustrando, vão, o céu,
percorrendo a vida, o escuro, o breu,
rabo brilhante de cometa cintilante de prazer errante,
espião indecente que com seu escuro tudo esconde,
mas tudo, tudo vê...!

Sexta, sábado, domingo, todos são dias memoráveis,
até a segunda, famigerada segundda, antecessora da terça,
da quarta-de-cinzas... de cinzas, que nada!
De cinzas, aquui, só Fênix, mas du-vi-dê-o-dó...
que dó de ti, dela, dele, de todos eles,
menos de nós, cegos, que não se desatam,
nem que queiram,
beiran-
do
a lou-
cu-
ra
.

O gato desaparecido



Existem crianças doentes por aí
Elas sentem falta de um gato...
(ou um prato)
de quem com quem brincar...
(amigos)


O gato seria bom
Pois não vê cor de roupa,
Sujeira, piolhos, nem dono.
Daí o menino podia 
Até vendê-lo
Até trocá-lo
por um prato de comida!


     Um gato gordo desapareceu.
     O gato afundou no prato...
     Vazio do menino com fome.
     E agora?
     Será que ele devolve o gato
     e troca por grana?
     Ou fica com esse novo amigo
     a lhe esquentar a cama?


Quem tem fome pensa rápido:      Matou o gato, comeu
                                                    E fingiu que era lasanha!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Para Kurdt Cobain

Escondida aqui
Em meio às feras que crio
Vivo só de erva daninha
Devorando a minha sina
Quando tenho meu repasto
Os peixes sem alma que pesco
São o único bem que me faço
Regalo-me e não me acho...

Algo está em meu lugar
Tudo está em meu lugar
Quem poderá me salvar,
Ave des(a)lada no mar?...
Para onde vão as bailarinas,
Sempre tão jovens, nesta vida?
O que acontece às cinturas de formiga,
À politesse dos finos e longos traços
     Que como belos barcos navegam no som?!

Será que as bailarinas,
De tanto dançar sempre são jovens?
Será que a dança é o divino cálice
da juventude?
     Para onde vão as bailarinas?

Depois de anos a fileira encantada
De belos cisnes, de esvoaçante pompa
Já não existe, está a fazer compra,
Deitar os filhos, lavar a roupa,
     Será que destransformam-se as bailarinas?!

Protegidas pelo véu da dança,
outrora, em criança,
Onde estão as agora velhas
bailarinas?!
     Será que jamais danças essas pombinhas?!

Para onde vão as bailarinas,
Cílios cobertos de purpurina,
Saltitantes, em alegria,
Para onde vão essas meninas?
     O palco não mais lhes apraz?

Vejo essas velhas cheias de dengo,
Idosas feras longe no tempo.
No que se transformam as bailarinas,
Depois da vida o sofrimento?
     Será que tão forte foi o vento?

Para onde vão essas borboletas?
Que viviam às piruetas?
Para onde foram aquelas meninas,
Hoje senhoras e atrevidas?
     Será que tão grande é a ferida?


Outrora o vento as embalava,
Agora as arrasta derruba comove.
De onde brotavam cristais de alegria
Agora o sofrimento inunda e chove.
     Aquela que sorria já não mais pode.


Dirão, lembrar é a alegria
De uma idosa bailarina...
A purpurina seca branca mas colorida
Brota-lhe dos olhos,
     Únicas e pequenas cintilas que lhe restaram
          de quando menina.

As minhas neuroses
Não as ponho em uma folha em branco
As desenho sobre a pele
Cada sulco colorido
É um cancro de um sonho perdido
vendido ou jogado fora.

Cada cor é cada dor
Cada traço é cada amor
           desidratado
           flor roxa
           desintegrada
           pelo pouco caso.


As minhas neuroses
Não são neuroses
São melancolias profundas
Tão profundas e profanas
           como uma tatuagem
                      sobre a pele.


E assim rio-me
com cada drágea de dor
que possa aos outros parecer
insuportável ou pecaminosa
marca eterna, etérea,
espinho ou rosa,
certa de que quanto mais as absorvo,
menos posso parecer,
mas sinto-me mais venturosa.


Pois de tudo o que a vida nos reserva,
de tudo o que ela nos oferece,
feliz é o coração que com a dor se preserva
e não o ser que com a queda padece.

a




solidão




é



flor





de



uma




folha








.

A maneira oca com que te emendas,
A maneira rala com que me acompanhas,
A maneira tosca com que me acodes na insônia,
pendurando-se em meus braços e pernas,
pendurando-me em teus...
é rara, às vezes grotesca, dantesca,
outras, vitoriana, cesárea!
Quando te enroscas em tuas coxas
que são minhas e no fundo tuas são,
é quando destemperas o sal do meu olho,
choro, verto lágrimas de algodão, talvez;
é como quando arrancasses do pão o fermento,
a massa seca, pálida, cansada, desfalece, embolorada,
é quando no pão como que acrescentasses alento,
vida sem tormento, a massa cresce, avermelha-se,
encadeira-se,
é quando rememoro todas as lembranças
de uma suposta aura ou origem divina,
é quando, de fato, não me mato, mas morro,
e não me socorro mas me socorres e acodes
a pálida máscara, totem ecumênico de amor e miséria.
 

Sonda

Antes que a tinta acabe
quero dizer quanto dura
o silêncio das mortes
no coração...



Uma vez morri com meu pássaro
e ressuscitei com o gato assassino
que se tornou
de minha estimação.