domingo, 10 de março de 2013

sinto a pele
a carcaça
mutilada
pelo próprio tempo.

sinto-a se desfazendo
entre suspiros e gozos

a mancha ascendendo
e, no fim
no meio dela
vou morrendo

o torpor vai me alcançando
e, pouco a pouco,
já sou eu mesma,
preenchida
inteira

mão - arrepio - toque
na contramão me constranjo
a timidez me empalidece
e minhas pupilas
crescem

ah, se pudessem contar
o que vai no pensamento

uma hora da madrugada
duas três ou mais
ainda encontrarei os
teus cabelos 
soltos
em minha mão
enquanto rijos são
os teus ais?

e o tempo passa
como um corisco
e nem de longe arrisco
qualquer som

pois o som pode afastar
o grito da boca
aberta
pronta para o susto...

nessas horas melhor nem falar!

lira delirante!

sábado, 9 de março de 2013

doença

A lua
amarela
hepatite
em meu
coração!
Preciso
de um antídoto
para esse veneno
que me faz quente
no verão
e fria no inverno
esse veneno
que se apossou
de minhas entranhas.
O amarelo
da lua
hoje
me faz gelar os pés
e tremer as mãos
porque a lua,
ao longe,
canta
uma última
canção:
nevermore nevermore nevermore ...

quarta-feira, 6 de março de 2013

Bah! Lela!



Então percebo algo,

finalmente:

sempre me senti

um peixe fora d'água.


Onde está o amor?

O que é o amor?

Invento para amenizar alguma dor?

Vive-se até melhor sem um amor.

Quem não tem,

não tem medo de perder.

Então quem não tem não sofre,

a não ser que não aguente

olhar

para a própria cara.


Aí a conversa já fica diferente.


Tantas atrocidades

já foram cometidas

em nome do amor,

tantos assassinatos,

tantos abandonos...


Dogma

criado para fundamentar

e ratificar

a exigência social

dos relacionamentos

monogâmicos!


Criado também

para o sujeito pensar

que é nobre!

Qual nada!


Agora percebo,

sempre estive enganada:

não há amor!

Estando livre desse entrave

já posso ser eu

sem mais alguém.

Já posso ser feliz

sem uma muleta

a me escorar.


Estando livre

já posso

me considerar

eu mesma,

sem achar

que falta

uma tampa

ou

outra metade!